terça-feira, 13 de outubro de 2009

Odeio bairristas

Não existe nada mais idiota que bairrismo. Nós convivemos com esta cretinice desde pequenos. Na escola já ouvimos o coleguinha falar que o legal é morar no bairro tal e que onde você mora é uma porcaria.

O bairrismo no Brasil é histórico. Gaúchos não gostam de paulistas que não gostam de nordestinos que não gostam de cariocas que não gostam de paulistas que não gostam de gaúchos que não gostam de nordestinos e assim vai...

Recebemos em nossos programas (ESPN) um monte de mensagens de fãs do esporte que insistem em levar, somente, a questão geográfica como fator de explicação para uma crítica ou opinião. Se algum comentarista fala do Flamengo é porque ele é paulista. Se um outro cita um jornal gaúcho é porque é gaúcho. Ofensas (daquelas que se é na escola tem briga) recebemos aos montes, todos os dias, o dia todo.

Um dos bairrismos mais idiotas que eu conheço é o do paulista contra carioca ou carioca contra paulista. Morei alguns anos na cidade maravilhosa e sofri bastante com isso. Primeiro que era tratado como "paulista" não por Denis. Os mais velhos me chamavam de 'paulista de merda'. Era uma criança na época, devia ter uns 12 anos. Quando vinha para São Paulo, passar férias em família, era a vez de ouvir das pessoas daqui: "E aquela cidade de merda que você mora?" "Cuidado para não ser assaltado!"

Incrível como as pessoas tem o dom de falar das coisas que não conhecem. Sempre que vou ao Rio, amigos falam mal de São Paulo e pergunto: "Conhece São Paulo?" "Já esteve neste lugar que você está falando?". Aqui em São Paulo acontece a mesma coisa. Quantas vezes, em bares da vida, o assunto não vira para o Rio e alguém grita: "Rio de Janeiro é uma merda mesmo, isso só poderia contecer naquela cidade!". Eu nunca hesito e logo vou pra cima: "Conhece o Rio?" "Já teve a oportunidade de andar por Ipanema ou tomar um chopp no Leblon?" Graças a Deus pude, por causa da minha profissão, conhecer muitos lugares mundo afora e consegui formar minha opinião em cima do conhecimento não em conversas de bar ou monólogos de amigos ou parentes cheios de razão. Tive a sorte de ter uma família que nunca teve a cabecinha fraca da média geral da classe média do nosso país. Meus pais sempre me ensinaram a respeitar o próximo e tivemos a ótima oportunidade de morarmos juntos em Recife e no Rio de Janeiro.

Dei esta volta toda para chegar no jornalista Ruy Castro. É incrível como ele insiste em usar os meios de comunicação em que trabalha para disseminar o bairrismo. Nascido em Caratinga, Minas Gerais, carioca por opção - e acho por coração - Ruy Castro é brilhante como escritor e crítico. Li ótimas biografias escritas por ele como a do Garrincha e a do Nelson Rodrigues.

Indico também outros ótimos títulos de Ruy Castro:
Ela é Carioca, Billac Vê Estrelas, Carnaval no Fogo, Carmen: Uma biografia, Chega de Saudade: A história e as histórias da Bossa Nova.

Mas é detestável como ele odeia paulista e São Paulo. Em uma oportunidade, assistindo um material bruto de uma entrevista que fizemos no Rio com alguns personagens importantes - o Ruy era um deles, vi e ouvi ele dizendo: "E agora os paulistas acham que são os maiores do futebol e querem nos enfiar este tal de Elano goela abaixo! Era só o que faltava. Elano na seleção!" Desde aquele dia fiquei com a impressão de que o nobre Ruy era um tanto bairrista. O tempo passou e agora não tenho mais dúvidas que é bairrista.

Outros dois exemplos recentes:

Dia 05 de outubro, coluna no jornal Folha de São Paulo.

De olho nos cariocas
"Neste fim de semana, os jornais explodiram de anúncios de página inteira saudando a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016, vindos da área dos bancos, cartões de crédito, energia, eletroeletrônicos, incorporadoras, carros, hotéis, shoppings, supermercados, alimentos, bebidas, seguros, planos de saúde, laboratórios médicos, estabelecimentos de ensino, construção civil, telefonia, comunicação e marketing, empresas aéreas etc, etc.A maioria dessas empresas tem sede em São Paulo, opera em São Paulo, emprega milhões de paulistas e paulistanos e investe seus lucros na própria São Paulo. Como os empresários são pessoas práticas e costumam enxergar maior e mais longe do que nós -ou não seriam empresários-, a vitória do Rio foi uma vitória do Brasil, do qual fazem parte. E como fazem. Espírito de porco não é com eles.Será uma sacudida na economia e, de um jeito ou de outro, todos ganharão, do vendedor de amendoim na praia ao empregado de loja e aos tubarões que construirão os hotéis. Indiretamente, a saúde, a educação, a segurança pública e a habitação serão beneficiadas. Dirão vocês que não é nada disso, que a roubalheira vai campear e os recursos públicos irão para os bolsos privados, porque o carioca, vou te contar.A turma tem razão. É preciso fiscalizar de perto os cariocas, e não faltará gente para isto. O problema é que, segundo pesquisa Datafolha em todo o país, veiculada ontem no Mais!, 83% dos brasileiros admitem já ter "cometido alguma prática ilegítima", de sonegar impostos e subornar o fiscal a estacionar em fila dupla e piratear programas de computador.Como já roubei livro em Paris e às vezes compro pente Flamengo no camelô, considero-me parte desses 83% e, por isso, não tenho moral para vigiar ninguém."

Prefiro não comentar!

Outro exemplo eu ouvir hoje, na coluna que ele faz todas as terças-feiras, na rádio BandnewsFM. O âncora Ricardo Boechat fez a abertura e chamou o colunista que começou assim: "Muitos de vocês paulistas devem ter se espantado ao abrir os principais jornais de São Paulo neste final de semana e se depararam com a manchete com o nome do homem mais rico do país. Claro, que vocês devem pensar que é o Antônio Ermírio ou o Olavo Setubal, que já morreu. Mas o homem mais rico do país é o jovem carioca Eike Batista..." e ai meus amigos o colunista ficou um tempão fazendo propaganda do ex-marido da Luma de Oliveira. Parecia que o milionário era candidato a algum cargo público. Ruy Castro fez campanha para Eike: "Ele está envolvido na despoluição da baía de Guanabara. Comprou o Hotel Glória e vai devolver a arquitetura original ao prédio".

Eu já tinha ouvido sobre o Eike e a sua fortuna. Mas foi no TV Fama com o Nelson Rubens. O próprio Boechat, esse sim carioca original, tentou dar um molho a coluna do Ruy dizendo que lembrava do nome do Eike numa coleira que a Luma de Oliveira usava no pescoço.

O que me deixou convicto do bairrismo do colunista/escritor foi o teor da conversa. O tema escolhido por ele para uma coluna semanal.

"Nós cariocas temos o homem mais rico do Brasil, não vocês paulistas!" Ele poderia ter falado assim.

Agora, uma pergunta: E eu com isso?!

Viva o Rio. Viva São Paulo. Viva Minas, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Amazônia, Pará, Piauí, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas, Bahia, Espirito Santo, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Distrito Federal, Paraíba, Rondônia, Acre, Amapá e Roraima. Enfim, viva o Brasil que é maior que o sentimento estúpido e cretino de qualquer um que tenha atitude bairrista que no fundo é racista!

9 comentários:

  1. Que beleza, hein Denis. Muito bom mesmo. Assino embaixo. Abração. Di Lallo.

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  2. Ah se todos pensassem como você...

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  3. Como baiana, sinto muito o bairrismo na imprensa. Como aspirante a jornalista e cidadã do Brasil, reprovo essa prática. Concordo com você, Denis. Não existe nada mais idiota que isso!

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  4. Tive a oportunidade de viajar pelo Brasil inteiro.Concordo com você sobre a existência de preconceitos por ai.Mas você foi corajoso em falar de uma lenda como é Ruy Castro. Ficou besta, esse excelente biografo. Não sei porque essa antipatia pelos paulistas. Será porque grande parte do salário dele é pago por órgãos de imprensa sediadas em São Paulo? E prova que essa coisa de bairrismo é besteira, observe que Boechat e Trajano, carioquissimos, chefiam o jornalismo da Band e da Espn, enquanto William Bonner, paulistano da gema, é edito-chefe do principal jornal da carioca Globo.

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  5. Parabéns Dênis, tb sou um paulista do interior, que morou na capital, em MG, filhi de uma carioca com um paulistano, e morando muito feliz no Maranhão. De tudo que você disse, a parte mais importante é a ignorância da classe média de coisas que nem conhecem, e infelizmente isso ocorre em todas as regiões do país. Quando levada na brincadeira é até saudável, no entanto me assusta como isso afeta de verdade muitas pessoas, e os comentários em blogs refletem isso. Pena deles, sorte a nossa que nos demos a oportunidade de viver coisas boas e claro ruins em lugares diferentes. Somos pessoas mais ricas na cabeça e no coração. Pobre daquele que acha que o seu buraco é sempre melhor que o do outro e vítima da fúria do buraco do outro. Abçç.

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  6. E olha que furo dele,Eike é mineiro haha!!

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  7. Você até que disfarçou, mas deixou claro que está magoado com Ruy, não pelo seus comentários bairristas, mas sim por ele não elogiar SP. Em quase metade do seu post vc falou da hegemonia paulista, frisou bem de onde vem a maioria das empresas. Sem contar com isso: "porque o carioca, vou te contar.A turma tem razão. É preciso fiscalizar de perto os cariocas, e não faltará gente para isto". Com essa você se entregou. Você bem que tentou, mas não mediu esforços p/ cutucar. E, ainda critica o bairrismo fazendo o mesmo? Contraditório, não?

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    1. É por ke nao tem jeito por mais ke as biba do rs e os caipiroes de sp sejam rascos perto de vcs do morro eles ate lembram humanoides

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    2. É por ke nao tem jeito por mais ke as biba do rs e os caipiroes de sp sejam rascos perto de vcs do morro eles ate lembram humanoides

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